O corpo humano é composto por cerca de 100 trilhões de células. Em grande parte, essas células são renovadas regularmente. A cada segundo, cerca de 50.000 células morrem, ao mesmo tempo, 50.000 células são regeneradas.
Este processo nem sempre funciona sem problemas. Com o tempo, proteínas mal dobradas, organelas celulares defeituosas e “resíduos celulares” podem se acumular e ficar presos em nosso corpo. Para garantir que esses resíduos não afetem negativamente as funções do nosso corpo, nosso organismo conta com seu próprio sistema de reciclagem. Este sistema é conhecido como autofagia.
O que é autofagia?
A autofagia pode ser melhor compreendida usando uma analogia. Imagine que você comprou uma velha casa quebrada. O telhado está vazando, as janelas estão soltas e as paredes estão desmoronando. A autofagia seria semelhante ao processo de remodelação em que partes da casa são reparadas, reaproveitadas ou recicladas para consertar a casa. A autofagia fornece esses mesmos benefícios às nossas células, ajudando-as a viver mais e com mais saúde.
A autofagia funciona como um programa de reciclagem de resíduos celulares auxiliando a célula a descartar proteínas danificadas ou mal dobradas e grandes organelas, e transformá-las em peças funcionais. O resultado é o rejuvenescimento celular. De muitas maneiras, a autofagia é o alicerce de uma vida celular longa e saudável.
O fenômeno da autofagia foi descrito pela primeira vez em 1963. Porém, apenas em 1990 o mecanismo subjacente foi totalmente decodificado pelo pesquisador japonês Yoshinori ?hsumi.
Após diversos experimentos com células de levedura, ?hsumi conseguiu descobrir a base genética da autofagia. Em 2016, ele recebeu o Prêmio Nobel de Medicina por essa descoberta.
O papel da autofagia
A descoberta de ?hsumi iluminou cientistas e profissionais médicos sobre o tema da autofagia. Desde então,inúmeros pesquisadoresse dedicam a estudar a importância da autofagia no desenvolvimento de doenças. Diversos estudos clínicos têm demonstrado a importância do processo de renovação celular da autofagia.
Os cientistas suspeitam que a autofagia inibida pode desencadear uma ampla gama de doenças, desde inflamação até doenças relacionadas à idadecomo Alzheimer, Parkinson e diabetes.
As células são a base para a saúde do seu corpo. Se suas células ficam fracas e insalubres ao envelhecer, seu corpo provavelmente se tornará fraco e insalubre também. A ciência concorda: a autofagia normal é um mecanismo importante que contribui para uma vida longa e saudável.
A autofagia é boa ou ruim?
Quando você ouve que a autofagia é basicamente células canibalizando umas às outras, é fácil pensar que isso soa prejudicial ao seu corpo. No entanto, a autofagia é bastante benéfica e algo que os cientistas acreditam que você deve se esforçar regularmente. Embora ainda não esteja claro como exatamente a autofagia cria alguns desses benefícios, aqui estão alguns benefícios da autofagia:
- Remove proteínas tóxicas que podem causar doenças relacionadas à idade.
- Recicla de proteínas residuais
- Fornece energia e blocos de construção para células
- Estimula a regeneração e células saudáveis
Acredita-se também que a autofagia desempenha um papel na prevenção e tratamento do câncer, ao reconhecer e remover potenciais células cancerígenas. Por este motivo, pesquisadores estudam a possibilidade de que a autofagia possa diminuir o risco de câncer.
Como podemos ativar a autofagia?
Conforme nossa idade aumenta, a autofagia diminui. Com os inúmeros benefícios à saúde atribuídos a este processo, muitas pessoas se perguntam: como posso ativar a autofagia?
De forma resumida, ao ingerir menos calorias em nossa nutrição, nossos corpos reconhecem a falta de energia exógena e passam a utilizar fontes de energia endógenas, como a autofagia. O corpo humano está preparado para períodos de abundância e fome e desenvolveu ferramentas modernas para impulsionar a energia por meio da reciclagem celular.
Atualmente, o método mais conhecido para ativar a autofagia é o jejum prolongado. Isso requer restrição calórica por horas ou até dias. Com fontes de energia exógenas reduzidas, nossas células são forçadas a mudar sua fonte de energia e a autofagia é ativada.
Portanto, nossa dieta, ou mais especificamente, a falta dela, tornou-se o elemento-chave estudado para induzir a autofagia. Existem muitas dietas e programas de jejum desenvolvidos em torno da indução de autofagia e renovação celular, como programas de jejum prolongado e intermitente, dietas restritivas e específicas.
Onde a espermidina se encaixa?
Infelizmente, o jejum não é uma opção apropriada para todos, e pode ter efeitos colaterais desconfortáveis ou difíceis. A maioria dos profissionais de saúde reconhece que aqueles que apresentam riscos à saúde, grávidas ou pessoas doentes devem ter cautela ao considerar o jejum e garantir que haja supervisão médica adequada.
No entanto, há cerca de 10 anos, cientistas da Universidade de Graz, na Áustria, sob a liderança do professor Frank Madeo, descobriram que a espermidina estimula naturalmente a autofagia por meio de um programa alternativo em nossas células. Como um “mimético de restrição calórica”, a espermidina pode, de forma natural, praticamente “enganar” o corpo e provocar a autofagia. Enquanto somos jovens, os níveis naturais de espermidina em nossas células são bastante altos e a autofagia é ativada regularmente usando espermidina. O problema é que, à medida que envelhecemos, nossa capacidade de produzir níveis naturais de espermidina através de nossa microbiota intestinal ou de nossas dietas diminui. Até recentemente, a importância de manter altos níveis de espermidina em nossos corpos para manter uma autofagia regular e eficaz não era bem conhecida.
Pesquisas sobre os processos naturais de nossos corpos demonstraram recentemente que a suplementação com espermidina pode ter o mesmo efeito que a restrição calórica no que se refere à autofagia. Suplementos de espermidina são uma opção para quem busca apoiar a saúde celular sem se preocupar com os efeitos colaterais estressantes das práticas rigorosas de jejum, ou para apoiar os benefícios positivos da autofagia durante e após o jejum.
É possível medir a autofagia?
Mensurar a autofagia em casa pode ser tarefa difícil, especialmente se você não for um cientista ou pesquisador treinado e experiente. Acredita-se que seja possível monitorar a autofagia através da observação direta de estruturas relacionadas à autofagia ou quantificação da degradação autofagia-lisossomo-dependente de proteínas e organelas. Enquanto cientistas de todo o mundo buscam “biomarcadores” de autofagia a fim de acompanhar o progresso, estamos cientes de que há pelo menos alguns sinais fisiológicos correlacionados:
Glicemia baixa - Quando o açúcar no sangue cai, seu corpo aumenta o cortisol, os hormônios do crescimento e as cetonas. Isso pode permitir o início da autofagia
Cetonas elevadas - À medida que o açúcar no sangue diminui, as cetonas aumentam
Perda de peso s - A autofagia ajuda na oxidação da gordura, o que significa que a perda de peso pode ser um sinal do processo
Apetite reduzido - Se você não está com fome, mesmo em jejum, seu corpo pode estar encontrando recursos em outro lugar para alimentar seu cérebro e corpo. Este pode ser um sinal revelador de cetose e autofagia.
Ao jejuar, fazer dieta ou suplementação de espermidina, fique atento a esses sinais de que seu corpo está em processo de autofagia.